domingo, 27 de julho de 2014

Encontro com indígenas Escrevi no último texto sobre a importância dos encontros humanos. Dessa vez, por coincidência, relato um encontro singular. Na praça principal do centro histórico de Paraty- RJ, deparo-me com dois miúdos, de traços indianados muito fortes. Estava com o violão na mão, ensaiando umas bossas pra projetos futuros e resolvi aproximar-me utilizando-me da linguagem universal, a música. Mas minha música não lhes atraía. O que queriam mesmo era brincar com as pedrinhas da praça, fazendo todo tipo de jogo com elas. Troquei algumas palavras e logo percebi que não entendiam português e sim falavam uma bela língua indígena. Comecei então a interagir utilizando-me das pedrinhas e então consegui alguma troca. Pouco depois cansaram-se os indiozinhos de brincar e foram pedir dinheiro às pessoas da praça. Olhei à volta para ver se notava algum astuto vilão, aquele que coloca a criança para esmolar, valendo-se de sua aparência frágil e terna para ganhar dinheiro. Não encontrei ninguém, mas sabia que estavam por perto. Levantei algumas reflexões sobre os indígenas após esse encontro. Gostaria primeiramente de saber como hoje veem os portugueses aos indígenas, que tipo de imagem lhes chega, o que pensam, como se relacionam com isso. Tenho que afirmar que nós, brasileiros, nos perguntamos, “quem são eles?” exceto os especialistas, nós da cidade grande não conseguimos distinguir uma nação de outra, e são mais de duzentas em território nacional. A triste verdade é que os indígenas são “o outro” em nossa sociedade, assim como se faz com o pobre. Não lhes foi dado valor. E que grande valor não possuem, com sua riqueza linguística, sua arte, seu modus vivendi que convive harmoniosamente com a natureza, tão caro nos nossos dias. Voltando à praça de Paraty, após brincar com eles chega-me uma outra criança (esta que aparece na foto). Ele chega cheia de encantamento, querendo brincar com as pedrinhas e se relacionar com as crianças. Eu olhar encantado e sua intenção não duram 1 minuto, pois logo vem o seu pai para tirá-la abruptamente desse convívio, dessa experiência, desse contato enriquecedor. A atitude desse pai parece sintetizar o modo com que nos relacionamos com os indígenas. Não educamos nossas crianças para conhecê-los, amá-los, considerá-los . Eles são um outro, um estranho, que queremos negar e nunca integrar. Trago a recordação daqueles olhos infantis e de sua bela língua. Que possamos aprender com eles e amá-los tal como a criancinha, que com encantamento foi brincar e desfrutar da praça e de suas pedrinhas. Em breve vou visitar uma tribo no litoral de São Paulo e na zona Sul da cidade de São Paulo, com a intenção de compreender um pouco mais desse povo que constitui nossa essência, mas que no entanto negamos e esquecemos.