quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Universidade livre do meio ambiente e Bosque alemão- CURITIBA





Inesquecível dia na Universidade livre do meio ambiente e no Jardim alemão: parece que nos transportamos para uma esfera superior; tudo era paz, alegria, beleza, leveza; as histórias que contávamos eram de paz; nossos olhos eram de paz; nossos projetos eram elevados, eram de paz. Foi o ambiente mais inspirador em que estivemos. Oxalá também inspire grandes homens a rearquitetar nossas cidades, nossa vida no meio ambiente. Com imagens do filme "Nosso lar" na cabeça, não foi difícil imaginar-nos nos jardins do Éden.

MEMORIAL RODRIGO DA ROSA

MEMORIAL RODRIGO DA ROSA


É contado que seus antepassados, os da família Franz, chegaram ao Brasil no final do século XIX. Vindos da Alemanha, aportaram no Rio Grande do Sul, tempo em que esta cidade falava mais o Espanhol, o castelhano, do que o Português. É sabido que preferiam as serras ao mar, e as terras serranas (frias) às quentes. Rancho Queimado é a cidade da serra catarinense na qual se instalaram os familiares diretos (bisavós) de Rodrigo da Rosa. Passei por lá em 2009. Que lindas terras! Que cuidado com tudo! Campinas verdejantes bem alinhadas e cuidadas; casas rigorosamente assuntadas.

É de saber honroso que me contam que Emilio Hartivig Franz, notadamente meu avô materno, aprendera alemão escrito antes do Português em colônia de Santa Catarina. É sabido também que fora proibido de falar o idioma germânico assim que Getúlio Vargas posicionou-se frente à 2ª Guerra Mundial. Os causos dizem que aprendeu um pouco de português escrito com minha avó. Contara-me ela, de nome Edith Maria Borges dos Santos Franz, a mulher mais espetacular que conheci, que o irmão de Hartivig, o seu cunhado, fora preso naquele então de pós guerra. Tomara umas cachaças e desatara-se a cantar na língua de Goeth; diz-se que soldados, ou militares, meteram-lhe o cacete e encarceraram-no por algum tempo. Foi assim que a família Franz participou de modo subversivo da história do país.

Da família Borges guardo alguma semelhança como Jorge Luis Borges; embora essa correlação seja improvável agrada-me a sonoridade dos nomes.

Da família da Rosa, tenho que dizer que proveio da Ilha dos Açores, nos mesmos meados do fim do século XIX. Chegaram a Porto Alegre e aí instalaram-se demoradamente. A linhagem de fato se dispersou, percorrendo os interiores do estado, Santa Catarina e Paraná. Soube de alguns que se instalaram no interior de São Paulo e no Rio de Janeiro. Não soube de outros que não nós em São Paulo capital.

Lá pelos interiores de Santa Catarina miscigenou-se com alguma ou algumas famílias de indígenas, daí o cabelo negro e liso e a coloração levemente morena da pele de alguns. Os portugueses, como se sabe, não têm uma estirpe predominante. Desde as navegações misturaram-se com o mundo todo. Por fim não existe pureza alguma de raça. O próprio conceito de raça é cientificamente incorreto. Existe apenas a espécie humana.

É certo que os da Rosa instalaram-se numa região de tropeiros, fazendo comércio ou vivendo às matas, com alguma cultura. Meu falecido pai, que Deus o tenha, costumava falar do italianos, seus vizinhos, na região da baixa serra catarinense. Gostava deles: via em sua testa franzida e em seus olhos a cena: cabelos castanhos escuros, mesa de madeira cumprida e larga; gentaiada toda ali, na ordem, seriedade e ciso; tudo na hora de deveras; no prumo, às ordem do chefe da família; todos corretos comendo polenta e as macarronada da mama.

Parece-me que meu avô passou por dificuldade econômicas na região em que sentou praça, no Sapato, SC. E foi lá onde meu pai conhecera minha mãe.



Meu pai fora uma pessoa verdadeiramente correta. Ainda o é. Ensinou-me a aproveitar o tempo. Ensinou-me o amor ao trabalho. Ensinou-me cousas, como sorrir feito menino e gargalhar sonoramente.

Minha vida foi um comércio, uma mercearia, um bar – era aí onde vivia, de lá via o povo, me relacionava com as pessoas. Tinha um caderninho de contas, onde constava Nega Viva, José de Souza (O Zé pretinho), Seu Antártica, Jorge Bahia, Amâncio... Nomes que não sumirão de minha memória, por ser de personagens que nunca mais encontrarei.

Hoje, pensando... d”o bar” (como chamávamos) veio quase tudo: a sociedade, as pessoas, os papéis, as classes, tudo que conheci fora de mim era d”o bar”. Depois nem era mais bar, mas pegou de se falar “o bar”. Ali aprendi, graças ao meu pai, a estar sempre atento a tudo, a ser atencioso com os fregueses, a procurar melhorar e ajeitar sempre o ambiente ao meu redor. Meu ego não gostava disso naquele tempo, mas como o ego é infantil, hoje reconheço: o que se decantou daquela experiência é muito valioso.

Era no bar onde divulgávamos as revistas Seicho-No-Ie. Meus pais haviam sido Dendoin (Divulgadores) e havia uma quantidade imensa de revistas para divulgação. Acontece que um dia papai ficou sentido porque se sentiu menosprezado por um superior seu, dentro da Organização. Dali, então, deixou de trabalhar para o Movimento. Minha fizera reuniões em casa, as chamadas reuniões de vizinhança – isso quando eu era bastante criança. Depois, como “o bar” consumia muito tempo, deixou de realizá-las, juntamente com a decepção de meu pai.

Eu também já me decepcionei com pessoas. Elas parecem tão boas e tão amigas, mas acontece de um dia falhar. Certamente, também sou assim. O profº Taniguchi escreveu: “Por que esse mundo é desigual? Porque nossa mente o é, porque há desigualdade em nossa mente.” Essas palavras me impressionaram muito. Elas encerram a lei de causa e efeito. É preciso ter docilidade, ou seja, renúncia ao seu eu, ao seu ego, para aceitar a justiça perfeita de Deus. Acreditar de coração que a justiça de Deus é perfeita é aceitar que só tenho o que mereço. Se me decepcionaram e me sinto sentido por isso é porque já decepcionei alguém e o deixei sentido. É muito difícil aceitar isso, mas creio que seja a verdade. Estou me esforçando para aceitar essa verdade de coração.

Pois bem, quando meus pais se afastaram do movimento, nós, seus filhos, perdemos muito com isso. Perdemos as reuniões de criança, os Seminários e a maravilhosa Ibiúna. Deus do céu, gostaria que o mundo todo fosse à Academia de Ibiúna! Como esse mundo será mais belo quando todos reconhecerem que o amor e a alegria verdadeiros estão bem perto de nós! Estive em Ibiúna com cinco anos e retornei lá aos 15 anos. Quando eu tinha 13 anos, minha mãe comprou um convite para mim e meu irmão irmos à Convenção Juvenil, na Sede Central. Meu ego era tão grande, com apenas 13 anos, que não fiz um mínimo esforço para ir. Uma leve sensação de mal estar, sentida na porta do evento, me fez desistir de entrar e voltamos para casa. Quanto tempo eu perdi! Quem sabe se tivesse entrado naquela portaria teria mudado um pouco meu destino! Oh, adolescência e juventude! Por que não obedecem aos mais velhos?! São tão cabeça-dura!

Estimados amigos, não abandonem o Movimento de Paz pela Fé! Vocês se decepcionarão sim, com as pessoas, isso será inevitável! O Movimento fenomênico é imperfeito, as pessoas são imperfeitas, de fato! Mas fora do Movimento, o que você irá encontrar? Permaneça no Movimento, mesmo que se sinta cansado, mesmo que lhe pareça repetitivo e sem eficácia; mesmo que você não consiga resolver seus problemas pessoais – com o tempo tudo vai melhorando e evoluindo. Nós não conseguimos medir o quanto somos beneficiados por trabalhar para a Seicho-No-Ie, o quanto ela é importante para nossos filhos, para as gerações que virão.

O mundo é justo. Mas não delicado e antisséptico. O corpo pede atividade. Vida antinatural é vida sedentária e antisséptica. Os próprios remédios/ vacinas antialérgicos contém poeira e germes em sua fórmula. Não é melhor enfrentar a vida e criar anticorpos naturalmente?

A vida é justa, mas não é de cristal. Se você não estiver atento e se esforçar, a vida te obrigará a isso através da dor. Quem se acomoda ante as facilidades, quem gosta de sombra e água fresca está criando perturbações ou doenças terríveis que o obrigarão a se mexer e a mudar. Quem odiou com toda a força, desrespeitando as leis da mente, sofrerá muito com a dor física e mental. Assim é a justiça.

Pois bem, era um menino de muito ego, muito exigente, falante e espalhafatoso. Gostava da rua, e até demais, pois meu pai me tirou de lá com uma surra bem dada, e merecida, aos meus 13. Certa vez, agradecendo a papai na Seicho-no-ie, chorei e lembrei-me de agradecer-lhe com emoção àquele chacoalhão. Chegando à adolescência, calei-me. De tão racional, calculista e egoico, acho que resolvi calar-me para não errar, para que não percebem minhas falhas. Que desperdício de vida! De extrovertido por natureza, tornei-me introspectivo. Só ultimamente tenho redescoberto minha extroversão natural por meio do Clown.

Aos 13 ingressei no grupo de Teatro Nossa Terra, de minha cidade. Ali cresci muito, embora me adulterasse também. Aprendi o gosto pelos textos, pela arte. Ali fui reconhecido e tive o grupo sonhado da adolescência. Na escola, eu era um ET, de apelido “Esquisitão”. No grupo de teatro, todos me reconheciam. Aos 15 fui à Academia de Ibiúna por primeira vez e participei de um grupo de Teatro na regional São Paulo Pinheiros, com a memorável Eliane Pacheco. Eu gostava dos amigos da Seicho-No-Ie, mas também gostava dos amigos do teatro. Como se dentro de mim tivesse a Natureza divina puxando para um lado e os desejos materiais puxando-me para outro. Assim, meu envolvimento com o Movimento da Seicho-No-Ie foi intermitente. Em 2000 fui vice-presidente da AL Campo Limpo. Em 2009, fui vice-presidente novamente. E em 2010 sigo como presidente da Associação Local dos jovens.

Antes disso, tenho que dizer que na infância e na adolescência tive doenças, todas advindas do medo de adoecer, outras por mágoa. Elas me aproximaram de Deus e dali comecei a ler avidamente os livros da Seicho-No-Ie e do Espiritismo. Tornei-me um grande conhecedor no início da adolescência e teve um momento na escola em que era chamado de “o conselheiro”.

Não posso omitir que com 16 comecei a cantar no Coral das Artes de Embu. Cantei por sete anos ininterruptos. Com ele, além de aprender muito sobre música, arte e convivência em grupo, pude viajar muito pelo Brasil e pelo mundo, como Argentina, Portugal e Itália. Devo muita gratidão a todos, especialmente ao maestro Daniel Vieira.

Em 2002, graças às práticas da Seicho-No-Ie, convicção, fé, ingressei na famigerada Universidade de São Paulo, no curso de Letras. Quando tive contato com autores como Marx, Nitzchie, Deleuze, Foucault e outros, abandonei a Seicho-No-Ie. Foi um período doloroso, pois foi como se perdesse a minha narrativa principal. Os problemas insolúveis vieram e tive de retornar à casa do Pai. Por fim, hoje vejo que foi bom passar por essa fase, pois os ensinamentos da Seicho-No-Ie saem vitoriosos mesmo tendo seus princípios contestados por grandes pensadores canonizados. O teísmo sai vitorioso para aqueles que têm sensibilidade, mais do que intelectualidade. Quando ainda estava na Universidade quis demonstrar isso a meus colegas: montei grupo de meditação e distribuí um texto no qual relatava meu despertar. Não posso dizer que foi aquele sucesso...

PROFISSÃO: PROFESSOR

Intuía que amaria ser professor, amaria ensinar. Na prática inicial fracassei – era demasiado complexo ser mestre. Então detestei sê-lo debrucei-me nos livros para ser um pesquisador e posteriormente lecionar em Universidade. Depois de dois anos preparando projeto, assistindo matéria como aluno especial, descobri que não era meu caminho. Eu teria de enfrentar a escola, os alunos difíceis, a periferia, a ignorância, a carência, a indisciplina ou a nova classe média, ignorante e esnobe – eu pensava naquele tempo.

Deus do Céu, como sofri em meus primeiros anos como professor! Lecionei para todas as séries, desde maternal até Ensino Médio, sendo professor particular de Espanhol também para adultos. Lecionei em escolas públicas, privadas de todo tipo, empresas, escritórios, casas... Com contrato, CLT, sem contrato, contrato verbal, estagiário, concursado...as oportunidades vinham, era como se eu tivesse de passar por todas as experiências docentes possíveis. Eu as enfrentei, sem desistir.

PROFESSOR: MISSÃO SAGRADA

Em 2008 encontrei-me sem saída e retornei à Seicho-No-Ie com toda a força. Um mundo construído por minha própria força era instável e imprevisível – mas um mundo segundo a vontade Deus era o único que poderia me proporcionar paz. Foi espantoso o despertar alcançado: era como se renascesse de novo, e era isso que todos diziam. Somente a partir desse momento, desse despertar, comecei a ver meus alunos de outra maneira e o professor começou a surgir dentro de mim. Em 2009 fui ao Seminário para educadores, em Ibiúna. Maravilhoso! 2009 parecia ser o ano de minha grande guinada.

Entendi profundamente que os alunos são a projeção da mente do professor e que cada professor tem os alunos que “merece”. Ou seja, cada professor encontra alunos semelhantes às suas vibrações mentais. “Aquele que purificou a mente ingressa em um mundo... elevado, adequado a ele. Aquele que não purificou a mente, cria com sua força mental um ambiente adequado a ele e padece neste ambiente”. O princípio é o mesmo para este mundo. Alunos difíceis servem para que purifiquemos nossa mente. Mas, é melhor pelo amor do que pela dor, não é? Quero dizer que se manifestarmos amor, nos purificaremos, e não encontraremos alunos tão difíceis.

Eu estava decidido a não trabalhar mais com adolescentes, pois tivera experiência deveras dolorosa em 2007. Contudo, com meu renascimento, decidi que enfrentaria o que Deus me desse.

No segundo semestre de 2008 tudo começou a mudar. O concurso no qual havia passado, para professor de EF II, e que havia desistido porque não queria enfrentar este ciclo, chamou-me para assumir novamente. Assumi. Fui lecionar numa periferia bastante difícil. Noites sem dormir, conflitos na sala de aula, problemas de indisciplina e desarmonia total. Eu poderia ter desistido, eu até pensei nisso. Mas intensifiquei minhas orações e fortaleci a fé: se os alunos são espelho da minha mente, quando harmonizá-la, os alunos também se harmonizarão. Foi o que aconteceu, como milagre! Após maratonas de orações para cada aluno, no oratório de minha casa, presenciei a grande mudança: alunos interessados, dóceis, atenciosos, e a aula fluindo de vento em popa. Voltando para casa chorei de emoção, agradeci muito a Deus e decidi ser um educador do amor.

No ano de 2010 iniciei os estudos do CEEV. Eu, que um professor inexpressivo, desrespeitado e muitas vezes ignorado pelos alunos, passei a ser amado por todos. Os outros professores e a direção passaram a me admirar. Eu mantive a humildade, sempre agradecendo, abençoando a tudo e a todos e orando pela felicidade dos demais.

Esta é a minha pequena biografia como educador. Daqui para diante certamente construirei tesouros ainda mais valiosos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Encontro























Quisera encontrar-te em meio à natureza.






Onde o mar,






suave,






límpido






celebrasse






com sua telúrica música






o encontro de Amor à vida.






E as montanhas,






Com seu verde vigor,






estonteantes cerros,






reverenciassem a dança






de almas felizes e tranquilas






pelo reencontro neste mundo.






A Natureza reverencia o encontro de duas almas.






O vento saúda-nos






e integra-nos à Vida.






Delicadamente nos afaga






os corpos






e os cabelos,






lembrando que não há vazio






nem desunião.






Os ventos percorrem






felizes






os entornos de nossa presença no mundo.






Os pássaros cantam






enaltecendo o belo profundo de nossas almas.






O céu






Imenso e azul






irmana-se a nossos olhos,






suaviza nossa aura,






como a auréola que envolve seres grandiosos.






O Sol






acompanhado pela suave aurora






que apresenta seus dedos róseos,






canta com resplendor o hino à Nova Vida.






Seus luminosos raios






transpassam-nos






alimentando nossa Luz interior.






















As árvores vigorosas






cantam continuamente o hino à força da Vida






e estão em nós.






Plenificam-se pela harmonia de nossa respiração.






Caminhamos sobre as folhas






e com grande prazer e felicidade respiramos o dadivoso ar.






Nossos passos são dançantes porque compreendemos,






com nossos sentidos e alma,






a música da Natureza.






Pássaros multi-colores






de beleza indescritível






reúnem-se ao nosso redor.






Eles cantam alegremente, com força e doçura.






Sua leveza e graça nos enchem de encanto e alegria.






As aves celestes cantam o mais belo Hino de louvor à Vida






e reverenciam as duas almas que se reencontraram






no mavioso cenário da vida.














As duas almas caminham, vivazes,






pela Natureza,






e desabrocham,






uma após outra,






flores das mais variadas cores e fragrâncias,






formando vasto campo ao redor dos seres amados.






As belas flores são reflexos






do elevado desejo de ajudar o próximo






que nasce do âmago da alma.






O ser amado colhe clívias,






rosas, crisântemos, cravos, gerânios






e adorna a amada alma que reencontrou.






A Natureza se revigora com o Belo.






Os seres brilham mais ainda com o Belo.






As suaves flores não são matéria.






Elas são o desejo de alegrar o próximo,






elas são a materialização do amor do ser espiritual.






Bastante próximo dali






ouvem-se risos de crianças






que brincam alegremente.






- Oh, amadas crianças! Venham até nós!






Deixem-nos contemplar suas belas faces risonhas!






Deixem-nos ouvir suas alegres vozes e ver seus corpos dançantes!






As crianças têm a face iluminada pela profunda alegria da alma.






Elas fazem uma roda com os seres amados






e dançam cantigas de roda, cantando com suas vozes puras e verdadeiras.






As crianças estão adornadas com lindas pedras preciosas.






São pedras azuis, verdes, vermelhas de inefável beleza.






Um dos seres diz:


- Flores






Pétalas de flores emanam de meu ser










por ti

domingo, 14 de março de 2010

O PRAZER QUE BUSCO

Da janela do meu quarto observo o que chamam de mundo. Acima projeta-se o que da astronomia assimilei. Abaixo, o que entendi da antropologia.


Da janela do meu quarto observo o mundo. Camadas e camadas de sentido. Eu já não me importo. Não vivo aqui. Aqui é um campo de trabalho, onde manipulamos e construímos. Nada daqui constitui a mim. Sou um ser distanciado disso tudo. A um passo sou distanciado, a outro, dou minha vida para construir algo duradouro. Esta vida não é minha. Utilizo um traje espacial e uma identidade que me deram para atuar neste mundo. Não ajo por minha própria força, não vivo por minha conta. Tudo é emprestado. Tudo é meu e nada me pertence. Tudo me é dado.


Em tudo busco o verdadeiro valor. Em tudo busco a verdade. Não sou um intelectual que busca o prazer no intelecto, o prazer do pensamento, que sem dúvida é o prazer individual mais elevado; não sou um artista, que busca o sentido e o prazer na experiência estética. Não sou um materialista, que busca o prazer e o sentido na matéria. Eu sou um ser espiritual que busca a Verdade, o Bem e o Belo. O prazer que busco é aquele da cosmogonia: quando me sinto Um com todas as pessoas e com a grande Vida. Este é, sem dúvida, o mais elevado prazer. Como consegui-lo? Vivendo para os outros, em favor dos outros, em benefício do todo e não de mim.

A experiência estética e a religiosa

Talvez tudo que escrevesse neste momento fosse uma reavaliação de meu passado; um querer registrar tudo o que agora lateja em mim como vida e que me serve de lição, de aprendizado. São tantas as boas sensações, as alegrias que às vezes me confundo em registrá-las. Quero guardar para sempre estes ensinamentos para nunca mais cair nas mesmas redes do fenômeno. Uma rede chama-se intelectualismo. Tratarei sobre ela novamente.


Sobre o intelectualismo tenho dito que ele jamais pode balizar uma vida. Hoje percebo que substituí a intuição pelo intelectualismo. Em vez de crer em minha consciência, em minha orientação interior, depositei minhas forças numa espécie de desenvolvimento intelectual/racional do homem civilizado. Dali adviriam minhas forças, dali minha razão de viver. Aos poucos notei que os homens de estrito rigor intelectual, aqueles que admirava, eram homens incompletos em diversas outras esferas (que pra mim são fundamentais) da vida. Tristes, viciosos, críticos, desesperançosos. Definitivamente,  não podia almejar um futuro tão desagradável. Um futuro tão pequeno.


Para o intelectual de hoje a estética, a arte e o intelectualismo assumem o sentido de sua vida. Eles dizem que não há sentido nenhum, e de fato a arte não nos dá sentido nenhum  [ouso dizer que sentido nenhum é outra espécie de sentido construído]. Ela possibilita a experiência estética, apenas isso. Experiência estética é um luzir da consciência, do ser, da linguagem e do sentido. É um expandir da consciência que gera uma sensação de plenitude, de transcendência, de cosmogonia, de perda do eu. É por isso que ela substituiu a religião para determinados grupos; ou pior, transformou-se em uma religião. Pena que tornou-se a religião do egoísmo, do hedonismo, e não da fraternidade, da irmandade.


De fato, a experiência estética é parecida com a experiência religiosa: a transcendência, a fusão do eu com o todo, a sensação de completude. A diferença fundamental é a de que a religião preconiza uma ideologia, um modo de vida, uma moral, e a experiência estética é isenta de prescrições, fechando-se em si mesma – seu êxtase é seu fim. [Não me parece mais ser isenta de prescrições, pois existe a ordem do hedonismo, a ordem da explosão da ira, a ordem de dispensar qualquer moral, de omitir-se da ética]. 






É curioso o caminho que percorreu a humanidade. Passando por séculos criou uma moral e uma ética, notoriamente alicerçadas na religião. Com o cientificismo do século XIX, a filosofia separou-se da religião, e a ética e a moral procuraram se afastar de dogmas. No século XX o cientificismo fracassou como possibilidade de entender e explicar o real. Com ele naufragaram a moral e a ética. [Observou-se que era impossível sistematizar a ética; era impossível postulá-la intelectualmente, pois ela se submetia às variáveis tempo, pessoa e lugar - somente a intuição poderia dar conta desse equilíbrio].


Nem a ciência, nem a religião davam conta da realidade. Então os homens se renderam à experiência estética, que além de possibilitar um espetacular desenvolvimento intelectual e cultural, também dá prestígio.


É curioso como este homem esteta pôde ignorar uma moral e uma ética desenvolvidas em séculos. [Tudo bem que não pudesse compreendê-la, mas a inteligência intelectual é somente uma das inteligências que possuímos - por que deveria anular todas as outras inteligências, as outras maneiras de se compreender o real?]


Retomarei uma escritura bíblica: “Ainda que falasse a língua dos homens e a língua dos anjos, sem a caridade eu nada seria”. Nesta escritura encerra-se meu assunto: o desenvolvimento intelectual e o refinamento estético não me farão um homem melhor. Somente a exteriorização do amor (a caridade, como preferem os budistas) me fará melhor.


O desenvolvimento intelectual é louvável, é muito bom. Conheço homens, como eu fora, que, reconhecendo sua aptidão para esta área, centravam toda sua vida aí, fazendo dele também (do desenvolvimento intelectual) o sentido de sua vida. Assemelha-se a um colegial que, ao reconhecer sua habilidade nos esportes, não quer fazer outra coisa; ou ao aluno cdf, que, sentindo-se confortável com as lições que lhe parecem fáceis, priva-se das atividades esportivas. Ambos estão errados, a vida é desenvolvimento sem fim, a vida é todas as coisas, é todas as habilidades ao mesmo tempo. O intelectual precisa aprender a sorrir, a compreender e a conviver em todos os meios culturais. Precisa, sobretudo, aprender a manifestar o amor – o sentido maior desta vida.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Hoje, eu posso

Hoje, eu posso.



Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu (Fernando Pessoa)






Eu, que já pensei tanto com o intelecto, que já visitei as filosofias e ideologias de meu tempo com muita seriedade; eu, que fui a Cuba ver o socialismo de perto, ou longe demais; eu, que fora um artista incompleto, mas um esteta às últimas instâncias, um ator, um crooner também fora, um violeiro, um músico de bar e de câmara; eu, que fora poeta em meio a boêmios; que fora intelectual em meio a acadêmicos. Eu, que li a fundo o pos-estruturalismo francês e quase me desestruturei por inteiro; eu, que investiguei a moral com profundidade considerando-a mera criação de nossa civilização; eu, que li Foulcaut e desprezei o prestígio do conhecimento, menosprezei o valor da sabedoria, da moral, da cultura e da civilização; eu, que fora hippie com muita seriedade já no ano 2000, assumindo um modo de vida intelectualmente impecável, medido e crítico às raízes, com base marxista e ateia – sem saber que o ateísmo não pode suportar o desenlace mais comum, a morte; eu, que entendi a semiótica como o mais avançado sistema de desconstrução da realidade cultural- pus a rir-me dos historiadores, dos pedagogos, dos religiosos, da ingenuidade teórica dos ativistas políticos; fiz tudo isso, fora tão sério e só encontrei o niilismo – como prêmio, o neo-dadaísmo da arte contemporânea. Não encontrei nada, só o sofrimento. Eu que... eu posso. Hoje eu posso.


Dói-me só de pensar no percurso tão ilusório que percorri, mas ele foi deveras importante. Qualquer ser pensante que leve a sério a ciência e o pensamento hegemônico da Academia, em nosso tempo, percorrerá esse caminho, e, como eu, resvalará na loucura. A ciência intelectual hegemônica de nosso mundo é doente, infelizmente.


Hoje volto a ter a simplicidade das crianças e posso cantar a canção:


“Eu ouço a voz que soa no meu interior,


Busca sempre a luz...”






Meus amigos, se vocês querem ter paz e vida plena como eu, leiam os 40 volumes da coleção Semei no Jisso, (O aspecto verdadeiro/ originário da vida), do Phd Masaharu Taniguchi, que foi mal traduzido por “A verdade da vida”. Trata-se de um amplo tratado de filosofia, psicologia, sociologia, pedagogia e espiritualidade. Ouse conhecer um mundo novo. Nessa coleção há um encaminhamento satisfatório e iluminador para as mais difíceis questões existenciais. Mais que isso, o texto vigoroso tem o poder de reconstruir a vida humana, em qualquer estágio que se encontre. Refiro-me à saúde física, mental e à estabilidade material. No último ano li dez volumes da referida coleção, tive iluminações maravilhosas e pude ver com meus olhos minha realidade clareando-se na mesma medida. Portanto, não falo de milagres, mas de conhecimento verdadeiramente transformador.


Por amor aos meus amigos, pelo desejo sincero de amenizar-lhes, um pouco que seja, os sofrimentos desta vida, lhes escrevo estas linhas.






A Seicho-no-ie, fundada por Masaharu Taniguchi, mantém no Brasil uma tradição pouco intelectualizada, por isso não crie aversão ao Marketing que você encontrará (que objetiva o grande público).


Informações: www.sni.org.br


Um abraço caloroso


Rodrigo Rosa

Carta aos intelectuais

Carta aos intelectuais








Quero falar abertamente aos intelectuais. Quero falar aos apaixonados pelo saber em geral e pela arte. Quero falar, com propriedade, da angústia que lhes corrói. Oh, homens e mulheres de estrito rigor intelectual. Vocês, que crêem na ética, vocês, céticos, que carregam consigo o peso da desesperança. Falo a vocês, que como eu, viram com horror a sociedade arrastar-se pelo consumismo desenfreado, por um dadaísmo não estético, mas banal, vocês que se espantam diante da banalização de tudo, do corpo, do sexo, da amizade, pela ânsia da mercadoria subvertendo todos os valores humanos e éticos. E, apesar das inovações tecnológicas, a desigualdade social persiste, a exploração da revolução industrial parece retomar a todo fôlego e já não temos ideal nem esperança e parece que não há nada a fazer. É a vocês que falo, a vocês que estão mergulhados na problemática deste discurso que postulo. A vocês, que ocupam este lugar tão desesperançado e sem saída que ocupei, é a vocês que me dirijo.


Quero propor um dinamismo. Quero apontar a fragilidade do pensamento racional cartesiano ou dialético para entender o real. Quero pedir licença para propor uma nova forma de saber. Um saber que, como o do ensaio (segundo Adorno), não pode ser apreendido pela ciência.


“A mais simples reflexão sobre a vida da consciência poderia indicar o quanto alguns conhecimentos, que não se confundem com impressões arbitrárias, dificilmente podem ser capturados pela rede da ciência” p.23.


“O parâmetro da objetividade desses conhecimentos não é a verificação de teses já comprovadas por sucessivos testes, mas a experiência humana individual, que se mantém coesa na esperança e na desilusão” p.23


“Mas aquela parte de seus achados que escorrega por entre as malhas do saber científico escapa com certeza à própria ciência.” p.24 (ADORNO, Theodor W. “O ensaio como forma”, in Notas de literatura. )


A forma de conhecimento que me proponho a explicar não é fácil de entender, exige um esforço para ser apreendida, já que é um conhecimento subjetivo.


Falarei sobre as ondas mentais e sua atuação no ambiente. Nossa mente é como um rádio transmissor de ondas. Sendo rádio, dependendo de como o sintonizarmos, podemos captar diversas freqüências mentais. Sendo transmissor, podemos transmitir também as mais variadas ondas. Com a experiência que sugerirei, rapidamente vocês compreenderão que as mentes se comunicam e que, não importa onde esteja uma pessoa, posso transmitir ondas mentais a ela.


Pense em uma pessoa com a qual você tem algum desentendimento. Durante uma semana faça o seguinte: por cinco minutos, à noite e ao despertar, mentalize: “você é uma pessoa excelente, eu te perdôo e você me perdoa, eu te amo e você me ama; você é, com certeza, uma pessoa maravilhosa”. Você deve mentalizar acreditando verdadeiramente nestas palavras, como o faria um ator. Não adianta repetir as palavras sem emoção. Em uma semana aquele pessoa se apresentará mais amável a você, e não será acaso.


Não só com relação às pessoas, quando vocês afinarem e harmonizarem a mente verão que os fatos cotidianos transcorrerão com desenvoltura e correspondente harmonia.


O saber que proponho expressar é considerado tão absurdo quanto foi o de um corpo poder voar sem ser pássaro. Quando o avião atinge determinada velocidade passa a atuar a lei da aerodinâmica. Da mesma maneira, quando nossa mente se harmoniza e se afina passa a atuar a lei da manifestação da mente no mundo das formas.


É surpreendente o quanto a sociedade ignora este saber importantíssimo. A vida das pessoas é um acaso sem fim. Será que elas nunca se darão conta de que as vibrações mentais que emanam transformam seu ambiente e sua vida?


Muitos desconfiarão desta minha apresentação. No entanto, quero fazer uma ressalva de que a habilidade de controlar a mente, assim como qualquer atividade humana, seja prática ou teórica, exige muito esforço e treinamento.


Sem esforço e treinamento não é possível começar a modificar o ambiente com a mente.


É curioso observar como a sociedade se esforça por adquirir os mais diversos conhecimentos científicos ou técnicos. Mas o conhecimento que é mais importante, o de dominar e controlar a mente e os pensamentos é tratado como misticismo ou coisa parecida e é ignorado totalmente.


Não quero dizer, como fazem algumas religiões, que se deve ignorar a ciência e as diversas formas de conhecimento humano adquiridas pelos séculos. A lei da aerodinâmica não ignora a lei da gravidade. Quero propor uma forma de saber importantíssima para a vida cotidiana que é ignorada por grande parte das pessoas.


Na verdade, as pessoas intuem, de alguma forma, que a mente influencia no ambiente. O que ocorre é que têm uma crença manca neste fato. Sua crença é manca, pois elas costumam fazer um rápido exercício: “Gostaria que fulano fosse mais agradável”; ou então, diante de uma expectativa, mentalizam “Tomara que dê tudo certo”. No entanto, por fim, nem fulano se tornou agradável e nem o evento triunfou. Em seguida, descrêem completamente do poder da mente e voltam a levar uma vida aflita, diante do inesperado acaso. Isto acontece porque a maioria das pessoas tem uma mente desfocada, agitada, o que significa ser uma mente enfraquecida, conduzida pelo hábito, que dificilmente conseguirá transformar o ambiente. O único meio de concentrar a mente e torná-la afinada e, por conseqüência, poderosa é a meditação.


Isto não é um manual de auto-ajuda. É difícil trabalhar a mente. Apenas baseio-me que, sabendo vocês que compartilhei das mesmas questões intelectuais e das mesmas bases teóricas, não crêem que estarei dizendo um disparate. Vocês sabem que sou razoavelmente esclarecido.


Por que, então, estaria escrevendo um texto como este? Porque a modalidade de saber que proponho, a de que a mente pode transformar o ambiente, é o mais importante saber que pude conhecer nesta vida. E me surpreende que seja praticamente ignorado.


Com pouco tempo de meditação vocês passarão a compreender que todos os problemas desta vida têm origem na mente, e assim poderemos viver melhor.


Como ficam, então, as questões que postulei no início do texto?


Iniciarei um grupo de meditação na faculdade de Letras e os convido a participar.


Encontros às terças-feiras, das 19h às 19:30h, na sala 109 da Faculdade de Letras, USP.