Nesta semana, encararam-nos como “salvadores da pátria”. A mim e a minha companheira de trabalho, a
Carol.
Ou salvadores da pátria ou santos milagreiros, foi com essa impressão
que nos olharam. Simplesmente porque, uma menina que supostamente era
cadeirante, passou a caminhar.
Caminhou dando-nos as mãos. Alegria, por descobrir suas pernas. Alegria,
por poder mover-se com novas sensações. Observando sua alegria, pensei: estou
no lugar certo, na hora certa, e isto se chama felicidade.
Nossa alunazinha tem oito anos. Franzina, mas de mãos grandes – de tanto
exercitá-las para deslocar-se girando as rodas de sua cadeira.
Por que estava na cadeira de rodas, já que andava? Não sabemos.
Podemos levantar muitas falsas hipóteses e até mesmo culpar a família.
Mas ninguém tem culpa. Ninguém é o culpado por algo, como mal desenvolvimento
de uma criança. Faltou informação, conhecimento. Esta parece ser a resposta
certeira.
Tiramo-la da cadeira porque o enfermeiro, que foi visitá-la em casa,
disse-me que ela “não é cadeirante”. Apenas disse-me isso, com insatisfação na
voz. E então fui comprovar sua fala. De fato, a mocinha anda, ainda que com
dificuldade.
Mas a verdade é que estava “amarrada” na cadeira. Usava um colete para o
tronco, que impede quedas. Mas ela tem controle do tronco. Não necessitaria
nada disso. Apenas para estar “amarrada”. Que triste. Isto é superproteção?
E a menina caminhou e todos nos olharam espantados. A professora disse
que não dava, que ela não deveria permanecer fora da cadeira porque poderia
cair. As crianças caem, eu respondi. “Mas ela pode se machucar”. As crianças se
machucam, respondi. Isso é normal. Anormal é deixar a pequena amarrada numa
cadeira!
Com esse episódio levantei uma reflexão. A menininha não caminhava, nem
mesmo reclamava por estar na cadeira porque certamente não sabia que podia
caminhar. Tal como um elefante, que é amarrado desde jovem e quando adolesce
crê deveras que a corda é inquebrantável, embora já tenha força para rompê-la.
Assim também seremos nós. Temos potencialidades que, por ignorância,
cremos que não as possuímos. Estou certo disso. Falsas crenças nos amarram,
atrofiam nossas pernas. Velhos conceitos nos impedem de avançar e conhecer
novas alegrias.
Mas, afinal, quem nos pegará pela mão para mostrar o que podemos?
Rodrigo da Rosa, outubro de 2014
Comentários, enviar para: franzrosa@hotmail.com