Como professor do Ensino Regular, de
um sistema de ensino, que, digo, está falido, não há como ser ouvido pela maior
parte dos alunos. Nossa fala é absolutamente desprezada, assim como o televisor
lá da sala, que, do quarto, esquecemos de desligar. É assim que um professor se
sente muitas vezes. A aula expositiva acabou, ou deve ter acabado na era
digital da compra desesperada e da cooptação sem fim pelos meios publicitários,
em cada tela, em cada esquina, por todos os lugares onde a vista alcança.
Mas tenho minha glória uma vez por
semana, quando vou à casa de R lecionar espanhol. Ele é o melhor aluno do
mundo. Pasmem, ouve o que digo. Pasmem mais uma vez: concentra-se nas
atividades. Pasmem novamente: memoriza os conteúdos e avança continuamente em
habilidades e competências.
R está tetraplégico há quatro anos.
Tem 18 anos. É o adolescente que mais tem razão para reclamar. Mas não reclama.
Visito-o semanalmente. R poderia tecer um rosário de lamentações. Mas não o faz.
R quer aprender. Com alegria, quer aprender.
Ele é o melhor aluno do mundo. Que
me importa que o sistema disciplinar esteja falido? R me ouve. Que me importa
que a juventude esteja cooptada pela publicidade, redes sociais e tenha se
esquecido do conhecimento? R quer aprender. R me motiva a ser professor.
Quantos anos esperei, querido R,
para sentir esse prazer que sinto agora como professor?
A vida no limite tem suas surpresas.
Quando eu desistia de ser professor, eis que surge um aluno de verdade. Quando
preparar aula havia se transformado em um exercício de frustração, a esperança
volta a me acenar com seus dedos abacate.
Rodrigo da Rosa, 29.10.2014