Como professor do Ensino Regular, de
um sistema de ensino, que, digo, está falido, não há como ser ouvido pela maior
parte dos alunos. Nossa fala é absolutamente desprezada, assim como o televisor
lá da sala, que, do quarto, esquecemos de desligar. É assim que um professor se
sente muitas vezes. A aula expositiva acabou, ou deve ter acabado na era
digital da compra desesperada e da cooptação sem fim pelos meios publicitários,
em cada tela, em cada esquina, por todos os lugares onde a vista alcança.
Mas tenho minha glória uma vez por
semana, quando vou à casa de R lecionar espanhol. Ele é o melhor aluno do
mundo. Pasmem, ouve o que digo. Pasmem mais uma vez: concentra-se nas
atividades. Pasmem novamente: memoriza os conteúdos e avança continuamente em
habilidades e competências.
R está tetraplégico há quatro anos.
Tem 18 anos. É o adolescente que mais tem razão para reclamar. Mas não reclama.
Visito-o semanalmente. R poderia tecer um rosário de lamentações. Mas não o faz.
R quer aprender. Com alegria, quer aprender.
Ele é o melhor aluno do mundo. Que
me importa que o sistema disciplinar esteja falido? R me ouve. Que me importa
que a juventude esteja cooptada pela publicidade, redes sociais e tenha se
esquecido do conhecimento? R quer aprender. R me motiva a ser professor.
Quantos anos esperei, querido R,
para sentir esse prazer que sinto agora como professor?
A vida no limite tem suas surpresas.
Quando eu desistia de ser professor, eis que surge um aluno de verdade. Quando
preparar aula havia se transformado em um exercício de frustração, a esperança
volta a me acenar com seus dedos abacate.
Rodrigo da Rosa, 29.10.2014
Bom dia, Marcos!
ResponderExcluirUm texto emocionante e bem escrito. Parabéns!
Entretanto, há alguns conceitos questionáveis. Por exemplo, qual o ideal de bom aluno que construímos? Aquele que fica quieto nos ouvindo, aquele que se mantém estático em sua cadeira? Por que os alunos não se encaixam mais no modelo de aula convencional? Qual a responsabilidade social e ética da escola enquanto instituição diante dessa realidade? Se está evidente que o modelo aula expositiva está falido, qual a responsabilidade docente sobre sua mudança? E a responsabilidade das políticas públicas de formação continuada? E a realidade dos currículos escolares? Enfim, são muitas as reflexões para que possamos afirmar que R é o ideal de aluno, até porque, talvez, esse ideal de aluno tenha que ser desconstruído e precisamos pensar em como atender às necessidades do aluno real. De alguma maneira, você tem oferecido à R o que ele precisa e ele tem retribuído essa ação, sendo o aluno esperado. Houve entre ambos o estabelecimento de um processo dialógico, uma troca afetiva e cognitiva.
Não, desista nunca da ação docente, por R e por tantos e tantos outros que vão ganhar muito com sua ação, assim como você ganhará muito com eles.
Se exponho essas questões é porque também estou em busca dessas respostas. Acho que apenas por meio do diálogo vamos encontrar algumas.
Beijos e obrigada por compartilhar seu texto!
Elza
O seu comentário, Elza, muito me agrada. As questões que você traz são pertinentes, nos levam à reflexão e à mobilização. Ao passo que meu texto é apenas um desabafo emocionado, sob um ponto de vista muito particular.
ExcluirGrande Abraço
Rodrigo da Rosa
Olá Rodrigo td bem?
ResponderExcluirÉ verídico?
Que lição de vida hein!!!
Ingrid Anita
Que lindo Ro!! Realmente encantador o R !!!Que ele siga com toda motivação e entusiasmo para aprender sempre mais!!
ResponderExcluirbjs
Marilda da Rosa Carlos
Nossa, Rodrigo, que experiéncia extraordinária, hein? E que sorte a desse aluno, ter conseguido o melhor professor do mundo...
ResponderExcluir